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Alexandre Félix

POEMA Pirangagem



cruel e escroque

é o uso

de causa humanitária

tua prática identitária

nos trampolins delicados das receitas de sucesso

quando se apagam os holofotes

e se desligam as tvs

resta a dor dos que foram golpeados pelas costas

no cotidiano distante de projeções

se sabe quem é quem

porque pelos frutos se conhece a árvore

e os que não o são?

causas estampadas de sordidez escondida no

marketing da autopromoção

mais uma marca no teu check list

metas alcançadas motivação

para calcular qual a dor mais abjeta

a manifestação mais rentável aos

louros, likes e lattes.

frutos?

não os cálculos cheios de ardis

atos minimamente milimetrados

amigos escolhidos

a amiga, o afago

o que ela pode me dá?

agendo seu contato.

um workshop bem bolado

mais gente pra eu envolver

e se eu te magoei

tá magoado

procure logo terapeuta! Tica aí !

recomendado

foco, miga, num ativismo para impressionar

mas dá um jeitinho para a mão direita ver e publicar o que a mão esquerda fez, tá?

tudo resolvido

numa live com os leitores de orelhas

cheias de teorias fashion para te convencer

ser notícia, ser notícia, ser notícia

primeira página no jornal

e a minha dor virou um nicho de mercado

em cadeia nacional

olha bem o tabuleiro

qual a próxima posição para galgar nessa estrutura de poder?

Repara nos

emoticons

primeiro coração

apoio total em postagens-lacração

prontidão sempre

e muita disposição para te ajudar

até a revelação:

é tudo pirangagem

de traíra

com direito a citações de marcuse a habermas

valei-me santa grada

nem minha hooks

vivendo de amor vai entender

e como não se impressionar

com o bom mocismo em uma rima pobre para tv?

um bem disfarçado mau-caratismo

de quem sabe fazer de pessoas, causas e cargos os seus degraus - um update?

é o que capitaliza nossos corres e não dá ponto sem nó.

eu asco, repulso e freio o frio na espinha

não pela vileza que sempre prospera e se avizinha

mas pela dobradura de tua bondade cúmplice

diante da propaganda fácil

que convence a todos

fachada medíocre capaz de vender-te

a alma

e passar por cima de tua confiança

se estiveres à frente dos interesses do seu reino de "si"

ao ver tua laudação

eu entendi que é vã

a tua defesa da soridade

enquanto eu ainda escuto o tilintar das moedas num estralar de beijos iscariotes

procuro lembrar de quando a lealdade e a amizade tornaram valores nas contas bancárias e nos altos postos

tu , nem aí para saber, pois não foi contigo

é melhor ficar do lado de quem está bem na fita

do que das amarguradas tretas tu segues em paz com a tua consciência cauterizada.

é o poder, minha fia

e o poder, diria a minha vó pisanta, com sabedoria de aída.

quer saber quem é alguém? A vó dizia, dá dinheiro e poder na mão dele.

tu me silencias

mas minha poema sobra, resistência.

enquanto se inflam os currículos sem lama alguma nos pés

nem poeira nenhuma na cara

eles compram a poesia por mixaria

para vender em tantas operações sem compaixão

e bem aqui ela tenta se recuperar de uma dor que cronicou

porque não se esperava

não esperava esse horror

essa rasteira sórdida

e tu que dizes "não foi comigo"

abraças e glorifica

o movimento sinuoso da serpente

ao calcular o ponto certo para o próximo bote.


Clau ( 20.06.2020)

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